segunda-feira, 23 de abril de 2012

C. S. Lewis sobre escrever

C. S. Lewis com certeza é um dos personagens mais incríveis que tive a chance de conhecer. Seus livros influenciaram toda uma geração de escritores; e nomes como J. K. Rowling e Neil Gaiman figuram entre a multidão de admiradores de sua obra. Dono de uma mente lógica digna de Aristóteles e um espírito imaginativo que se equipara àquele de Carroll, Tolkien, ou Chesterton, esse professor de literatura de Oxford continua surpreendendo novas gerações com seu gênio e espírito colossais.

Mais conhecido por sua série de livros infantis "As Crônicas de Nárnia," Lewis recebeu milhares de cartas de fãs de suas obras - muitas delas de crianças - e tentou responder à todas de maneira sincera e afetuosa. O que se segue é a tradução de uma dessas cartas onde Lewis dá algumas valiosas dicas sobre a arte de escrever à uma pequena garota americana chamada Joan Lancaster.

São dicas simples, todavia valiosíssimas, pequenos fragmentos dessa mente fantástica que com toda a certeza valem três minutos da vida de qualquer um que goste de literatura - e claro - de Lewis.

The Kilns,
Headington Quarry,
Oxford
26 June 1956

Querida Joan-

Agradeço pela sua carta do terceiro. Você descreve sua Maravilhosa Noite muito bem. Isto é, você descreve o lugar e as pessoas e a noite e o sentimento de tudo isto, muito bem - mas não a própria coisa - a armação mas não a jóia. E não é de se admirar! Wordsworth frequentemente faz a mesma coisa. Seu "O Prelúdio" (você está fadada a lê-lo mais ou menos daqui a dez anos. Não o tente agora, ou você irá apenas prejudicar a sua leitura futura) está cheio de momentos nos quais tudo exceto a própria coisa é descrita. Se você se tornar uma escritora você tentará descrever a coisa por toda a sua vida: e se tiver sorte, dentro de doze livros, uma ou duas senteças, apenas por um momento, chegam perto de conseguir tal feito.

- O que se segue são dicas específicas sobre palavras específicas em Inglês. Coisa que não nos interessa muito aqui, pelo menos não nesse post. Lewis então continua:

- O que realmente importa é:

1. Sempre tente usar linguagem de maneira a deixar claro o que você quer dizer e para se certificar de que sua sentença não poderia significar nada mais.

2. Sempre prefira a palavra clara e direta à longa e vaga. Não efetue promessas, mas a mantenha.

3. Jamais use um substantivo abstrato quando um concreto poderia ter feito o trabalho. Se você quer dizer "Mais pessoas morreram" não diga "A mortalidade cresceu."

4. Ao escrever. Não use adjetivos que meramente nos dizem como você quer que nos sintamos sobre o que você está descrevendo. Quero dizer, ao invés de nos dizer que algo é "terrível," descreva-o de maneira que nos sintamos terrificados. Não diga que algo foi "encantador"; faça com que nós digamos "encantador" ao ler a descrição. Você vê, todas essas palavras (assustador, maravilhoso, medonho,. extraordinário) equivalem a dizer aos seus leitores, "Por favor, faça o meu trabalho para mim."

5. Não use palavras muito grandes para o assunto. Não diga infinitamente quando você quer dizer muito. De outra maneira não lhe restará palavra alguma quando você quiser falar sobre algo realmente infinito.

Obrigado pelas fotos. Você e Aslam estão muito bem. Eu espero que você goste de sua casa nova.

Com amor
C. S. Lewis

domingo, 22 de abril de 2012

Aqui estou novamente.


"Todos os pensamentos inteligentes já foram pensados; o que se faz necessário é pensá-los novamente." (Johann Wolfgang Goethe)

Aqui estou novamente, escrevendo em um blog. Mas agora as coisas são bem diferentes, e minha cabeça deu quinze mil reviravoltas nesse curto espaço de dois anos. Tive a chance de descobrir - e redescobrir - autores que mudaram minha vida. Tive a chance de conhecer novas pessoas e reencontrar antigas; de descobrir novos gostos musicais, de entender e expurgar preconceitos, de ler e aprender um pouco mais.

 Aqui estou novamente, entretanto, não sou o mesmo de dois anos atrás.

Não tenho vergonha de minhas mudanças, porque, como Pascal disse, não tenho vergonha de pensar. E pensar implica em mudar. Pensar implica em identificar e destruir conceitos sem fundamento, pensar implica em renovar e ampliar antigas idéias, em fortificar de maneira racional suas crenças, sentimentos e ideais. Por isso não tenho vergonha de ter mudado, não tenho vergonha de ter voltado atrás, não tenho vergonha de tentar entender.

Então, aqui estou, de novo, tentando escrever. Porémentretantotodavia, o motivo que me move à tal empreitada é bem diferente. Descobri que amo ler, descobri que gosto também de escrever. Meu sonho é poder escrever algo relevante um dia, e leio grandes autores com grande satisfação e admiração por esse maravilhoso dom que é o dom da literatura. Tento escrever agora porque amo escrever, e escrever é um maravilhoso exercício mental e espiritual, escrevo porque me sinto bem ao fazê-lo; não porque desejo que as pessoas me achem inteligente, ou porque quero impressionar alguém. Desisti de tentar ser profundo para tentar ser sincero. E descobri que isso é infinitamente mais difícil.

Sendo infinitamente mais difícil fazer tal coisa, quero mais do que nunca fazê-la. Quero escrever com sinceridade e qualidade, quero transmitir minhas experiências, conhecimento e até mesmo falhas, para que outros, assim como C. S. Lewis disse, possam "enxergar através dos meus olhos." Reconheço de imediato a enormidade da tarefa, reconheço de imediato a minha pequenez. Mas reconheço que homens muito melhores do que eu falharam diversas vezes, que intelectos muito superiores ao meu tremeram de dúvida, falta de confiança, e medo do futuro. Se assim foi com eles (e elas), porque não seria comigo? Sempre tentei ser perfeito, e encontrar algo no qual tivesse uma facilidade incrível. Algo onde eu pudesse ser muito bom sem precisar me esforçar. E, obviamente, não encontrei.

 Até que certo dia estava lendo um livro de compilações de Albert Einstein, onde ele diz algo mais ou menos assim ao falar sobre a sua teoria da relatividade: "Não sou tão inteligente assim, eu apenas passei vários anos estudando o mesmo assunto." Aí entendi que as pessoas, até mesmo os gênios, se esforçam! Essa descoberta foi fantástica, e desde então entendi que estava sendo um completo babaca. Vou fazer aquilo que amo porque eu amo fazê-lo, essa é a razão principal, todo o resto é consequência.

Sendo assim, dou-lhe as boas vindas, se você quiser ler esse blog, leia-o. Se não quiser, oras, não o leia. Simples assim. Se você já conversou comigo e me achou uma pessoa extremamente sem graça, não lhe recomendo esse blog, se você já conversou comigo e me achou uma pessoa extremamente legal, também não leia esse blog, porque você está terrivelmente enganado e alguns erros não devem ser corrigidos. Se você não me conhece, faça o que você quiser, a vida é sua, e não tenho nada a ver com isso.

Bienvenue!