sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

30 coisas que você provavelmente não sabia sobre C. S. Lewis


1. Ele não era Inglês. Embora muitos pensem e se refiram à ele como tal, ele nasceu de fato em Belfast, na Irlanda. Portanto ele era tecnicamente Britânico, mas não Inglês.

2. Ele mudou seu nome para Jack. Em 1902 ele anunciou aos seus pais que ele seria, daquele dia em diante, atender pela alcunha de “Jacksie.” Nome que foi então diminuído para “Jacks” e então finalmente “Jack.” Ele não seria mais Clive. 

3. Ele nunca aprendeu a dirigir.

4. Seu som favorito era a risada do homem adulto.


5. Sua felicidade ideal era “estar sempre convalescente devido à alguma pequena enfermidade e estar sentado em uma janela com vista para o mar, para então ler estes poemas (épicos da Itália Renascentista) por oito horas de cada dia feliz.”

6. Ele amava o mar. 

7. Ele falhou nos seus exames de entrada em Oxford, duas vezes. Ele tentou os exames pelo menos duas vezes e falhou na seção de matemática. Ele foi permitido entrar em Oxford em 1917 pois havia servido no exército.

8. Ele sonhava com leões. Antes de escrever As Crônicas de Nárnia ele teve sonhos estranhos com leões e figuras em sua cabeça de um fauno carregando pacotes.

9. J. R. R. Tolkien não gostava das histórias de Nárnia. Tolkien não apreciava as alegorias Cristãs, muito menos da mistura de mitos. Embora pareça que ele mantivesse um carinho por Aslam, todavia.

10. Aslan é a palavra Turca para “leão.” 

11. Ele frequentemente se referia à Jesus como Aslan em suas orações.

12. Alguns argumentam que Tolkien baseou Barbárvore em Lewis. Eu não posso provar esta, mas já a ouvi em mais de um lugar. 

13. Sua conversão ao Cristianismo não ocorreu no momento descrito em Surpreendido pela Alegria: “Você deve me imaginar sozinho naquele quarto em Magdalen, noite após noite, sentindo, sempre que minha mente se elevava até mesmo por um segundo do meu trabalho, a firme e implacável aproximação Daquele que eu tanto não desejava encontrar. Aquilo que eu tanto temia havia finalmente vindo sobre mim. No final do ano letivo de 1929 eu desisti, e admiti que Deus era Deus, e ajoelhei e orei: talvez, naquela noite, o mais abatido e relutante convertido em toda a Inglaterra. Eu não via então o que agora é o fato mais óbvio e brilhante; a humildade Divina que irá aceitar um convertido até mesmo em tais termos. O filho pródigo pelo menos entrou em sua casa com os próprio pés. Mas quem poderá adorar devidamente aquele Amor que irá abrir os portões para um pródigo que é trazido chutando, lutando, ressentido, e aguçando seus olhos em todas as direções por uma chance de fuga? As palavras compelle intrare, ‘obriga-os a entrar,’ têm sido tão abusadas por homens perversos que nos causam arrepio à sua simples menção; todavia, propriamente compreendidas, elas sondam as profundezas da misericórdia Divina. A dureza de Deus é mais benevolente que a suavidade do homem, e a Sua compulsão é nossa liberação.” 

Esta foi apenas sua conversão do ateísmo para o teísmo em 1929. Sua conversão ao Cristianismo não ocorreu até 1931 quando ele e seu irmão foram ao Zoológico de Whipsnade. Warren pilotava a motocicleta enquanto Jack se encontrava sentado ao assento atrelado ao lado! Ele escreveu, “Quando nós saímos, eu não acreditava que Jesus Cristo era o Filho de Deus, e quando alcançamos o zoológico, eu acreditava.” Na noite anterior à esta viagem, Lewis havia tido uma longa discussão com Hugo Dyson e J. R. R. Tolkien sobre o Cristianismo.

14. Ele não afirmava a inerrância das Escrituras. Para ser claro, ele mantinha a Bíblia e sua autoridade em alta estima. Ele a lia constantemente (Versão Autorizada). Mas não usaria a mesma linguagem sobre a Bíblia que os evangélicos usam hoje em dia.

15. Ele não era um fã da Reforma. Ele acreditava que os problemas envolvidos poderiam ter sido lidados de uma maneira mais apropriada. Ele se referiu à mesma como “ridícula.” 

16. Ele fumava ... um monte!

17. Ele bebia ... consideravelmente!

18. Ele se vestia notavelmente mal. 


19. Ele era extremamente generoso. Douglas Gresham lembra um história onde Jack e um amigo estavam andando para uma reunião um dia quando ambos foram abordados por um pedinte. O pedinte pediu alguns trocados enquanto Jack o deu tudo que tinha. Uma vez sozinhos, seu amigo disse, “Você não deveria ter dado todo o seu dinheiro àquele homem Jack, ele vai gastar tudo em bebida!” Jack respondeu - “Bem, se eu tivesse ficado com ele, eu mesmo o teria gasto todo com bebida.” 

20. Ele se casou com Joy Davidman em um hospital. Isto ocorreu um ano após seu casamento em uma cerimônia civil secreta, casamento este que se deu devido à negação da residência de Joy na Inglaterra pelo Governo Britânico. Mas ele queria uma cerimônia na Igreja, daí o casamento no hospital.

21. Anatomia de uma dor foi originalmente publicado sob o pseudônimo de N. W. Clerk. Lewis escreveu esta obra após a morte de Joy em 1960. Muitos que leram o livro mandaram uma cópia à Lewis na esperança de ajudá-lo no seu apuro! 

22. Cristianismo Puro e Simples não faz menção à Ressurreição. Ele escreveu sobre a Ressurreição, todavia, em Milagres e outras obras. 

23. Ele leu todos os livros do Século 16. Para preparar sua "English Literature in the 16th Century," ele leu cada um dos volumes do século 16 da Biblioteca de Duke Humphrey, a parte mais antiga da Biblioteca Bodleiana. 

24. Cartas de um Diabo ao seu aprendiz foi seu livro menos favorito de escrever. Ele disse que nunca escreveu com menos prazer. Ter que “mudar de lado” foi difícil para ele. 

25. Ele escreveu para Kathy Keller. Kathy é a esposa de Tim Keller. Ele escreveu para Lewis quando tinha 12 anos. Existem quatro cartas dele para ela em Letters to Children e no volume três de Letters of C. S. Lewis. 

26. Ele dividiu um barco para a Irlanda com Martyn Lloyd-Jones em 1953. Os dois haviam se encontrado anteriormente quando Lloyd-Jones participou de uma preleção dada por Lewis onde após a mesma almoçaram juntos. 

27. Ele não era Calvinista. Ele disse em um carta (3:866) “Eu não sou um Calvinista.” 

28. Ele morreu em 22 de Novembro de 1963. Este foi obviamente o mesmo dia que Kennedy foi baleado bem como o dia em que Aldous Huxley morreu.

29. Walter Hooper se referiu à ele como “o homem mais completamente convertido que eu jamais conheci.”

30. Ele disse sobre seus escritos, “Cinco anos depois da minha morte ninguém irá ler nada do que eu escrevi.” Ele está morto agora por 49 anos. Felizmente, Sr. Lewis, você estava errado! Feliz Aniversário! 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013


Breve Biografia de Martyn Lloyd-Jones (1899-1981)


O País de Gales é um local deveras único em todo o mundo. Embora parte da Grã-Bretanha, as pessoas são ferozmente rápidas em lembrá-lo de que elas são Galesas, não Inglesas, e elas o podem fazer em sua própria língua ao invés do Inglês. Gales também tem sido uma terra de fortes contrastes espirituais. No final do século 18, Christmas Evans irrompeu na cena. O "Bunyan Galês de um olho" como muitos o chamaram ajudou a trazer o avivamento primeiro às suas próprias Igrejas Batistas e daí para o todo o resto. Pelo próximo século Gales transbordou e fluiu do avivamento evangélico à frieza e esterilidade teológica. Nomes como Daniel Rowland, William Williams, Howell Harris, e Evan Roberts são lendas do fogo de avivamento Galês. No começo do século 20 o fervor havia mais uma vez esfriado e um tipo de pseudo evangelicalismo tomou as igrejas daquela terra. Eles tinham a fama de vivos mas estavam mortos. 

Foi nesta terra de volúvel humor espiritual que David Martyn Lloyd-Jones nasceu em 20 de Dezembro de 1899. Deus tinha um plano para que essa criança de Henry e Magdalene Lloyd-Jones trouxesse o fogo de avivamento que Evans, Roberts e outros haviam experimentado anteriormente de Gales para o mundo. Algunas haviam dito que Charles Spurgeon havia sido o último Puritano, mas o tempo mostraria que eles deveriam ter esperado para ouvir "O Doutor" antes de fazer essa asserção. 

A juventude de Martyn foi consideravelmente rotineira até Janeiro de 1910. Até aquele ponto o pai de Lloyd-Jones havia sido um homem de negócios razoavelmente bem sucedido em sua cidade de Llangeitho. Aquela noite mudaria muitas coisas, todavia. Nas trevas da noite um incêndio irrompeu, incêndio que quase custou as vidas de Martyn e seus irmãos que dormiam no andar de cima. Embora a família tenha sido salva muitos de seus bens foram perdidos. Henry pareceu nunca se recuperar financeiramente de maneira completa desse revés. Quase por acidente, Martyn descobriu quão desesperadora sua situação havia se tornado. Através de seus anos escolares ele carregou este peso em seu coração. Como resultado Martyn era sério para sua idade e muito focado em ser bem-sucedido em sua educação e vida. Como Ian H. Murray nota em sua maravilhosa biografia de Lloyd-Jones. "Foi como ele houvesse pulado muito do que é comum à juventude, isto é o que ele quis dizer quando declarou, 'Eu nunca tive uma adolescência.' Embora caloroso em seu coração, David Martyn Lloyd-Jones iria sempre carregar com ele uma reputação de austeridade e severidade.

Dr. Lloyd Jones foi criado no Metodismo Calvinista Galês, primeiro como um garoto em Gale
s e depois como um estudante em Londres, quando a Charing Cross Chapel, que sua família frequentava, estava vivendo dos restos da emoção do avivamento Galês. Se você nunca ouviu falar dos Metodistas Calvinistas o próprio termo pode parecer contraditório. Devido aos seus fundamentos espirituais naquele movimento talvez seja sábio tomar algum tempo para ouvir uma explicação daquela denominação vinda do próprio Lloyd-Jones. Considere o seguinte excerto tirado de uma palestra dada por Lloyd-Jones em 1968 à Conferência Puritana de Westminster. 

O Metodismo Calvinista  Galês encontra suas raízes em George Whitefield. Durante a metade do século 18 as igrejas da Grã-Bretanha podiam ser divididas em dois campos principais. O ramo Metodista (sob John Wesley) era Arminiano, significando que eles enfatizavam a livre escolha do homem. O ramo Prestiberiano e Congregacionalista era Calvinista, significando que eles enfatizavam a soberania de Deus na salvação. Ambos os campos tinham seus problemas. O Metodista ignorava a natureza das doutrinas da Graça e a necessidade do homem depravado ser regenerado pelo chamado eficaz de Deus. Por outro lado os Calvinistas (incluindo muitos Batistas) haviam se tornado hiper-Calvinistas, significando que eles começaram a negar a oferta livre do Evangelho a todos os homens e necessidade de evangelismo e missões. 

De muitas maneiras o Metodismo Calvinista procurou o melhor dos dois lados. Estes Cristãos Galeses acreditavam completamente nas doutrinas da Graça. Diferente de seus irmãos Ingleses, todavia, eles não acreditavam que ser Calvinista significava ignorar o coração e as emoções. Eles estavam cientes daquilo que George Whitefield denominou um "Cristo sentido." Lloyd-Jones acertadamente notou que doutrina correta aparte deste "Cristo sentido" tinha problemas inerentes. A Igreja Galesa viu uma necessidade do retorno à pregação da palavra de Deus ao invés de pregar declarações doutrinárias, Catecismos e Confissões. Outra grande preocupação do Metodismo Calvinista foi avivamento. Por esta razão Lloyd-Jones observou que acreditava que Jonathan Edwards era em seu coração um Metodista Calvinista.

Embora a Igreja Galesa Metodista Calvinista houvesse se tornado fria na época de Lloyd-Jones, sua história possui um papel muito importante na formulação de sua vida e ministério. "O Doutor" reintroduziu em seu ministério a necessidade de uma pregação expositiva e cuidadosa. Ele restaurou à Grã-Bretanha o que havia sido conhecido sob Spurgeon e isto era uma ânsia pela pura Palavra de Deus acima da liturgia e forma religiosas. 

Agora devemos retornar à nossa história. Havia pouca doutrina para fazer frente à crescente corrente de liberalismo ou para trazer a distinção entre meros frequentadores de igreja e Cristãos verdadeiros. Os três garotos Lloyd-Jones gostavam de debates intelectuais, mas cada um deles estava mais comprometido com suas respectivas carreiras do que com sua fé professa. Isto era bastante comum naqueles dias. A maioria das pessoas viam a religião como um hobbie apaixonado ao invés de um evento transformador. 

Em 1916 Martyn Lloyd-Jones partiu para a cidade grande afim de iniciar sua educação como um praticante de medicina. Sua educação aconteceu no Saint Bartholomew’s Hospital, mais conhecido simplesmente como Bart’s. Bart’s carregava o mesmo prestígio na comunidade médica do que Oxford na comunidade intelectual. A carreira de Martyn era a medicina. Ele passou nos exames tão novo que teve que esperar para fazer seu MD, época na qual ele já era assistente de Sir Thomas Horder, um dos melhores e mais famosos médicos daquela época. Com 26 anos de idade ele também já possuia seu MRCP (Membro do Colégio Real de Médicos) e estava em seu caminho da escada de Harley Street, com uma brilhante e lucrativa carreira à sua frente. Todavia, Deus tinha planos para que Martyn Lloyd-Jones fosse um médico de almas ao invés de corpos. 

Para a maioria de nós, a estrada de Deus não é reta e rápida mas antes curva e com muitos obstáculos no caminho. Isto era verdade para Lloyd-Jones. Pensando em si mesmo como um Cristão razoavelmente bom, ele rapidamente se envolveu na Igreja Metodista Calvinista chamada Charing Cross Chapel. Entre outras coisas, aquele foi o local onde Martyn conheceu Bethan Philips, também uma estudante de medicina, que nove anos depois iria se tornar sua esposa e companheira de toda a vida. Foi também em Charing Cross Chapel que Martyn aperfeiçoou suas habilidades de debate enquanto ele e seu professor da Escola Dominical frequentemente gastavam horas do domingo de manhã argumentando sobre excelentes pontos das Escrituras. 

Havia outro debate ocorrendo durante aquele tempo mas era privado e conhecido apenas dentro do próprio Lloyd-Jones. Martyn e seus irmãos haviam todos se juntado à Igreja de sua cidade natal em Llangeitho em 1914 devido ao encorajamento de seu ministro, mas Martyn estava agora começando olhar sinceramente para sua real condição espiritual. Ele mais tarde escreveu “Por muitos anos eu pensei que fosse um Cristão quando de fato não o era. Foi apenas depois que eu percebi que nunca tinha sido um Cristão e me tornei um.”  Enquanto ele lutava com sua salvação a graça da verdade entrou em foco. Martyn realmente nunca havia ouvido a sã pregação do Evangelho em sua juventude. Como ele mesmo disse, “O que eu precisava era de uma pregação que me convencesse do pecado e... me trouxesse ao arrependimento e me dissesse algo sobre regeneração. Mas eu nunca havia ouvido isto. A pregação que tínhamos era sempre baseada na suposição de que éramos todos Cristãos...” À medida que o Doutor lia por si mesmo ele lentamas certamente começou a enxergar a lógica e o poder do Evangelho de Jesus Cristo. Como as ondas de uma maré vindoura, a realidade da graça de Deus tomou o coração de Martyn até que confiar em Cristo era tudo que ele podia fazer. E tão certo como essa realidade o tomou pessoalmente também o fez profissionalmente. Cedo se tornou aparente que Deus estava chamando Martyn Lloyd-Jones para pregar e por isso ele nunca mais seria o mesmo!

Ao mesmo tempo ele encarou outra crise. Martyn desejava casar com Bethan Phillips, que frequentava a Charing Cross com seus pais e dois irmãos. Seu pai era um famoso especialista ocular e ela própria estava prestes a se qualificar como uma doutora na University College Hospital. Após o que foi um longo cortejo ele a disse que desejava largar Harley Street e se tornar um Ministro. Após um ano durante o qual claramente a guiou também, eles se casaram em 1927. 

Imediatamente após o casamento o jovem casal voltou ao País de Gales para pastorar sua primeira igreja em Sandfields, Aberavon. Martyn havia retornado ao seu amado País de Gales. Como seu trabalho como médico com os pobres em Londres havia impressionado tanto Lloyd-Jones, este vilarejo era uma escolha lógica. Um escritor a descreveu da seguinte maneira: “Sandfields contém pelo menos 5000 homens, mulheres e crianças vivendo em sua maioria sob condições sórdidas e super-lotadas.” Ou como foi colocado por outro era um lugar para “o apostador, a prostituta e o publicano.”

Muitos receberam Lloyd-Jones de braços abertos mas outros ficaram desconfiados. Os médicos locais não estavam muito felizes com a nova chegada. Eles estavam quase certos de que ele havia aparecido para se mostrar e roubar seus pacientes. Mas o Dr. Lloyd-Jones não era apenas mais um novo ministro saído de um colégio teológico liberal, aparando sua mensagem com a opinião contemporânea e os preconceitos de sua congregação. Ele estava determinado a pregar a mensagem com a clareza de cristal na qual havia vindo até ele. As palavras de seu primeiro sermão tiradas de I Timóteo 1:7 ilustram onde suas convicções estavam fundadas: 

“Nossas... igrejas estão cheias de pessoas que em sua grande maioria tomam a ceia do Senhor sem nenhuma hesitação, e ainda... você realmente imagina mesmo por um momento que todas estas pessoas realmente acreditam que Cristo morreu por elas? “Muito bem então,” você pergunta, “porque elas frequentam a Igreja, porque elas fingem acreditar?” A resposta é, eles têm medo de ser honestos consigo mesmos... Eu sentirei muito mais vergonha por toda a eternidade pelas ocasiões nas quais eu disse que acreditava em Cristo quando de fato não acreditava...”

Isto era demais para alguns da congregação, e estes a deixaram. Mas em seu lugar - devagar no começo - um número crescente veio, atraídos pela verdade, a classe trabalhadora do País de Gales. A mensagem os trouxe e o poder do Espírito Santo os converteu. Não havia apelos dramáticos, apenas um jovem pastor com a clara mensagem da justiça de Deus e Seu amor, a qual trouxe um caso difícil após outro ao arrependimento e conversão. 

Para alguns que estão acostumados à pregação Bíblica é difícil imaginar o agitamento que este jovem pregador causou. Primeiramente ele não era teologicamente treinado (pelo menos não pelos meios reconhecidos.) Ao invés de pregar através de uma forma lecionária ou pré-embalada, Lloyd-Jones era acima de tudo um pregador da Bíblia. Desde o começo ele procurou dar um entendimento de verso-por-verso da Palavra de Deus ao Seu povo. Talvez isto fosse um reflexo de sua própria vida devocional a qual incluía a leitura da Bíblia completa todos os anos. É preciso apenas ler os oito ou nove volumes dos sermões em Romanos ou os oito volumes dos sermões em Efésios por este homem da Palavra para entender quão profunda era sua afeição pela e sua fidelidade às Escrituras.

Também não pode haver dúvida de que a sua leitura dos Puritanos também teve uma profunda influência no doutor que se tornou pregador. Como ainda é verdade em muitos cantos de pensamento religioso e intelectual em nossos dias, os Puritanos eram muito frequentemente caricaturados como malignos destruídores da felicidade e alegria pelos líderes religiosos Ingleses do começo do século vinte. Diferentemente de muitos de seus críticos, todavia, Martyn Lloyd-Jones de fato leu os Puritanos. Ele leu toda a obra de Richard Baxter, Christian Directory, e os muitos volumes de John Owen. Em sua visão, os Puritanos diferiam de outras religiões organizadas de muitas maneiras importantes. Primeiro, os Puritanos enfatizavam a natureza da adoração acima de rituais e formas exteriores. Segundo, eles enfatizavam o corpo conjunto de Cristo acima do indivíduo tornando assim a disciplina da Igreja necessária e saudávela para a causa de Cristo. Finalmente, os Puritanos acreditavam na aplicação direta da Palavra a cada alma. O Espírito do Puritanismo, Lloyd-Jones acreditava, pode ser traçado de William Tyndale à John Owen à Charles Spurgeon. Foi este espírito da centralidade da Palavra de Deus que levou este novo pregador ao País de Gales. 

A Igreja em Aberavon cresceu com a firme corrente de conversões. Notórios alcoólatras se tornaram Cristãos gloriosos e trabalhadores vinham às aulas Bíblicas que ele e sua esposa conduziam afim de aprenderem as doutrinas de sua fé recentemente encontrada. E ao redor do Sul de Gales, outras igrejas, frequentemente famintas por sã doutrina e pregação que lidava com o mundo como estava no fundo da grande crise, o convidavam para seus púlpitos. Na medida que sua pregação se tornou conhecida, mais e mais exigências de fora começaram a ser feitas pela presença de Lloyd-Jones. Muitos outros pregadores começaram a tê-lo como modelo do que um ministro deveria ser. Ele pregou no Canadá e na América e era frequentemente chamado para falar perante diversas assembléias por toda Grã-Bretanha. 

Foi em uma noite de intenso nevoeiro em 28 de Novembro de 1935 que Lloyd-Jones pregou à uma assembléia em Albert Hall. Durante sua mensagem o “Doutor” explicou os problemas bíblicos que ele via em muitas das frequentemente formas de evangelismo usadas para o crescimento de Igrejas. Ele disse: 
“Podem muitos dos métodos evangelísticos introduzidos há quarenta ou cinquenta anos realmente ser justificados pela Palavra de Deus? Enquanto eu leio a obra dos grandes Evangelistas na Bíblia eu encontro que eles não estavam preocupados primeiramente com os resultados; eles estavam preocupados com a proclamação da palavra da verdade.  Eles deixavam o aumento com Ele. Eles estavam preocupados acima de tudo que as pessoas encarassem a própria verdade face a face.”

Um dos ouvintes naquela noite era o senhor de 72 anos Dr. Campbell Morgan, pastor da Capela de Westminster, em Londres. É reportado que o pastor ancião disse à Lloyd-Jones, “Ninguém senão você teria me trazido até aqui em uma noite como esta!” O evangélico com talvez a maior fama e respeito nacionais durante os anos trinta era G. Campbell Morgan, Ministro da Capela de Westminster. Ao ouvir Lloyd-Jones, ele imediatamente o quis como colega e sucessor em 1938. Mas isto não era tão fácil, pois havia também uma proposta para que ele fosse o Diretor apontado do Colégio Teológico em Bala; e o chamado de Gales e o treinamento de uma nova geração de ministros para aquele local era muito forte. No final o chamado para a Capela de Westminster prevaleceu e a família Lloyd-Jones com suas fillhas, Elizabeth e Ann, foram finalmente consagradas à Londres em Abril de 1939. Ele havia começado seu ministério lá, em uma base temporária em Setembro de 1938.

A associação de Morgan e Lloyd-Jones é um exemplo apropriado de como Cristãos pode trabalhar juntos até mesmo quando diferem em assuntos secundários. G. Campbell Morgan era um Arminiano e sua exposição Bíblica, embora famosa, não lidava com as grandes doutrinas da Reforma. Martyn Lloyd-Jones era da tradição de Spurgeon, Whitefiled, os Puritanos e os Reformadores. Ainda assim os dois homens respeitavam as posições e talentos do outro e sua breve parceria, até a morte de Campbell Morgan no final da guerra, foi pacífica e muito ajudou a avançar a obra de Cristo em Londres. 

Sob o ajuntamento das nuvens tempestuosas da Segunda Guerra Mundial, Martyn Lloyd-Jones assumiu o pastorado integral da Capela de Westminster por ocasião da aposentadoria pública de Morgan. Este seria um tempo de provação extrema para todos em Londres enquanto os cidadõas daquela metrópole suportaram meses infindáveis de ataques noturnos dos bombardeiros de Hitler. Em um ponto no começo da guerra houveram 57 noites sucessivas de bombardeamentos. Winston Churchill escreveu sobre aquele período, “Naquele ponto nós não enxergávamos nenhum fim senão a demolição de toda a Metrópole.” Como a Capela de Westminster era muito próxima do Palácio de Buckingham e outros importantes prédios governamentais ela estava em constante perigo de ser completamente destruída. A irmandade da Igreja estava em constante estado de crise emocional e financeira. 

Westminster também estava constantemente alcançando sua própria crise interna. Muitos daqueles da “velha-guarda” não se importavam muito com o jovem Calvinista que tinha dividido o púlpito com seu reverenciado Dr. Morgan. É um testamento do poder da Palavra de Deus e o espírito humilde do Dr. Lloyd-Jones que a Igreja não apenas sobreviveu mas eventualmente floresceu. Após a Guerra, a congregação cresceu rapidamente. De 1948 até 1968, a data de sua aposentadoria, a congregação teve uma média de talvez 1500 pessoas nos domingos de manhã e 2000 pessoas nas noites de domingo. 

No começo de 1953 um estudo Bíblico nas noites de sexta feira foi iniciado na Capela principal. Foi lá que Lloyd-Jones começou sua exposição monumental do livro de Romanos. Assim como a obre de Lutero sobre Gálatas e Romanos efetuou séculos de Puritanos, esta grande obra sobre Romanos tem influenciado a presente geração de Cristãos, incluindo este autor. Assim como ele começou ele continuaria, ministrando à sua congregação a Palavra de Deus ao invés de sua própria personalidade.

A despeito das dificuldades da guerra, Dr. Lloyd-Jones estava diretamente envolvido na fundação de três importantes instituições. A primeira delas possui a história mais interessante. Anos antes um Cristão chamado Geoffery Williams havia começado a colecionar raras edições de grandes obras Cristãs. Com o passar do tempo sua coleção de escritos Puritanos e outras obras cresceu para mais de 20,000 volumes guardados em sua casa e garagem. Geoffery não escondeu estes tesouros. Ele começou uma biblioteca onde emprestava as obras e ministrava para muitos que não haviam lido estes amplamente esquecidos livros. Após muita discussão, Martyn Lloyd-Jones encontrou seu caminho para a Livraria Evangélica e deu seu suporte. Assim uma nova geração de Cristãos foi exposta aos escritos de Bunyan, Baxter, Owen e outros. A segunda irmandade que Lloyd-Jones ajundou a fundar foi a The Westminster Fellowship. O Livro Os Puritanos publicado pela Banner of Truth Trust é uma compilação das palestras anuais de Lloyd-Jones àquela sociedade. 

Outro grupo com o qual o doutor estava envolvido era a Inter Varsity Fellowship. Martyn Lloyd-Jones se assegurou que a IVF não concedesse nada à ala liberal da igreja. A IVF cresceu em força, enquanto no curso do tempo a uma vez poderosa Student Christian Movement, com suas visões liberais, caiu no esquecimento. Cedo esta poderosa liderança produziu um grupo de jovens ministros e teólogos e um fórum regular para discussões. Esta era a conferência Puritana, que era realizada regularmente todo mês de Dezembro sob sua presidência. Nos seus primeiros dias alguns Anglicanos estavam entre  suas figuras principais, como o era Iain Murray. Havia um forte sentimento sobre a necessidade de se voltar aos fundamentos teológicos da tradição Protestante, ao período de cem anos antes da Reforma, onde suas implicações teológicas haviam sido trabalhadas. Obras eram lidas e discutidas e o Dr. Lloyd-Jones presidia as reuniões com habilidade e autoridade.

As conferências influenciaram grupos de jovens ministros todos os anos e estabeleceu uma fixa e firme posição teológica em face ao crescimento da ética situacional e o repúdio geral da autoridade pelo estabelecimento clérico dos anos 50 e 60. A casa de publicação ‘Banner for Truth’ e a The Evangelical Magazine foram ambas iniciadas com a ajuda e encorajamento de Martyn Lloyd-Jones, que também poderosamente prestou suporte ao trabalho da Evangelical Library. Em um nível pastoral, ele liderava uma fraternidade mensal de pastores desde o começo dos anos 40, onde pastores discutiam todos os problemas que enfrentavam tanto dentro das igrejas quanto em seu alcance. Aqui sua sempre crescente experiência, sua sabedoria profunda e seu bom senso pé no chão ajudaram muitos jovens pastores com problemas aparentemente únicos e insolúveis. 

Durante o verão de 1947 o doutor fez outra visita aos Estados Unidos e foi recebido com carinho. Por pedido de Carl F. H. Henry ele falou no Colégio Wheaton. Os cinco discursos foram publicados pelo nome de Truth Unchanged, Unchanging. (A Verdade Inalterada, Imutável - Tradução Livre). Neles Lloyd-Jones apresentou sua crença no tipo de pregação que o mundo realmente precisa. Um caráter forte e um líder forte não pode evitar controvérsias. Acreditando, como ele acreditava, no poder do Espírito Santo para convencer e converter, ele fazia oposição profunda à tradição que havia crescido desde Moody, a tradição de grandes reuniões com música suave e apelos emotivos para a conversão. Ele também se opunha à uniões arbitrárias entre denominações baseadas em pragmatismo ao invés de doutrina. Nada causaria mais problemas à Lloyd-Jones do que sua inabalável crença na necessidade da aderência à certas doutrinas fundamentais. 

Enquanto muitos se ajuntavam para ouvir o doutor, ao fim da guerra outros líderes Cristãos estavam começando a ignorá-lo. Quando uma publicação de 1946 listou os nomes de “Gigantes do Púlpito,” enquanto nomes como Weatherhead foram incluídos, o nome de Lloyd-Jones estava obviamente ausente. Quando Deus está trabalhando, Satanás está bramando ao redor como acusador dos irmãos. A idéia de que Lloyd-Jones promovia divisões o seguiu durante todo o resto de seu ministério. Ele disse em 1968, “Eu fui informado por um homem na América com quem eu havia pregado... que um evangelista de seu país o havia dito com pesar que eu era o instrumento do diabo na Grã-Bretanha no presente momento pois eu estava dividindo os evangélicos.” Mais será dito sobre este equívoco em breve. 

No começo dos anos 50, muito havia mudado no panorama espiritual da Inglaterra. Em 1952, Arthur W. Pink morreu em relativo anonimato em uma ilha da Escócia. Naquele tempo poucos teriam adivinhado que seus escritos seriam um dia publicados e lidos por Cristãos ao redor do mundo. Em 1959, Lloyd-Jones notou que havia um avivamento de interesse nas doutrinas da Graça e os ensinos dos Puritanos na igreja. Aqueles que encabeçavam este retorno não era sua própria geração, todavia. O interesse real estava entre jovens ministros e Cristãos. Esta nova geração de líderes viu as verdades imutáveis da Palavra de Deus de uma maneira que a geração anterior não havia enxergado. Alguns acusaram Lloyd-Jones de ignorância teológica na melhor das hipóteses e arrogância espiritual na pior delas. A verdade é que Martyn frequentemente censurava seus jovens estudantes por tornarem a discussão sobre Calvinismo e Arminianismo um ponto de controvérsias. De fato ele publicamente expressou sua crença de que A. W. Pink deveria ter tido um espírito mais reconciliatório e longânimo no esforço de trazer as pessoas de volta à verdade.

Foi em sua relação com a Igreja da Inglaterra que a controvérsia mais séria veio. Martyn Lloyd-Jones mantinha uma forte crença na unidade evangélica. Ele não acreditava que barreiras denominacionais devessem separar aqueles que têm uma fé em comum. E, na medida que o movimento ecumênico ganhava força e a ala liberal da igreja fazia maiores e maiores concessões às  mundanas opiniões atuais correntes, ele veio a acreditar que a resposta correta seria os evangélicos largarem as denominações às quais eram comprometidos e formar seus próprios grupos. Ele não tinha ilusões sobre o possível destino final dos novos grupos da igreja. Eles poderiam, ao seu tempo, se extraviar, se perder. Mas ele manteve que cada um de nós deveria fazer o melhor para sua própria geração, independemente do que poderia acontecer depois, e que o movimento ecumênico colocara aqueles que mantinham a longa linha de verdadeira teologia Cristã e prática em uma posição impossível. 

A crise veio em uma reunião presidida pelo Rev. John Stott, líder da ala evangélica da Igreja da Inglaterra. Martyn Lloyd-Jones fez um apelo imensamente poderoso à sua larga audiência para que saíssem de suas denominações. A reunião foi uma divisora de águas. Os Anglicanos evangélicos foram para um caminho e os evangélicos nas igrejas não-conformistas para o outro. Quando a União Congregacional se juntou à Igreja Presbiteriana Inglesa, a Capela de Westminster deixou a União Congregacional e se juntou à União de Igrejas Evangélicas Independentes. Muitos ministros evangélicos na União Batista e Igreja Metodista deixaram seus respectivos corpos denominacionais alguns com e alguns sem suas congregações. 

O Conselho Evangélico Britânico se ligou à FIEC e outras pequenas denominações evangélicas. Estas igrejas haviam se mantido sozinhas em face à corrente secularista, enquanto as igrejas tradicionalmente não-conformistas haviam entrado em declínio aberto. No lado Anglicano, alguns teólogos Evangélicos tomaram a frente na tentativa de encontrar uma acomodação entre as alas Evangélica, Anglo-Católica e Liberal, e, lamentavelmente, a Conferência Puritana para a qual eles haviam inicialmente contribuído , foi dissolvida. Em seu lugar, aqueles que compartilhavam da mesma visão do movimento ecumênico do Dr. Lloyd-Jones, formaram a Conferência Westminster, a qual ele continuou a presidir com vigor. Isto evitou que o problema se tornasse uma controvérsia continuamente resmungada entre a maioria oposta ao movimento ecumênico e a minoria que acreditava em permanecer nas denominações ecumenicamente ligadas. 

Não deve nunca ser deduzido deste fato que Lloyd-Jones fazia parte daqueles outros separatistas que pareciam apenas estar esperando pela próxima heresia que eles poderiam apontar em outra igreja em algum lugar. Anos antes ele havia pleiteado com o famoso T. T. Shields para que ele abandonasse seus ataques cáusticos às igrejas liberais. Ao mesmo tempo, Lloyd-Jones entendeu seus tempos exatamente como Spurgeon havia entendido os dele 75 anos antes. Ele enxergou os efeitos de manter relações próximas com líderes de igreja crescentemente liberais. Esta colisão teve seu resultado definitivo no famoso encontro do doutro com Billy Graham. Graham tinha vindo à Inglaterra virtualmente desconhecido, e a deixou onze semanas mais tarde havendo registrado 37,600 conversões públicas. Embora amigável à Graham e até mesmo permitindo que a Capela de Westminster fosse usada como local de planejamento, o Dr. Lloyd-Jones não emprestaria seu nome à cruzada. Em 1963 ele e Graham tiveram uma reunião muito cordial e a terminaram como irmão Cristãos. Graham não conseguiu o endosso de Lloyd-Jones e este manteve sua posição de que ninguém deveria embraçar liberais religiosos por números ou resultados. 

Uma das maiores paixões de Martyn Lloyd-Jones era o retorno à combinação dos Metodistas Calvinistas Galeses da doutrina dos Calvinistas com o estusiasmo dos Metodistas. Afim de alcançar este fim ele começou em 1959 uma série sobre avivamento que iria compreender 26 sermões. Ele havia se tornado ansioso para evitar que a ênfase recentemente recuperada sobre a sã doutrina reformada se degenerasse em dureza e frieza doutrinárias. Para contra-atacar este perigo ele começou a enfatizar em seu ensino a importância da experiência. Ele falou muito da necessidade do conhecimento experimental do Espírito Santo, da confiança plena pelo Espírito, e da verdade que Deus lida imediata e diretamente com Seus filhos - frequentemente ilustrando essas verdades através da história da igreja. Contrário à muito do ensino que iria surgir durante o Renovo Carismático dos anos 60 Lloyd-Jones apresentou várias características do verdadeiro avivamento. Primeiro ele proclamou que Deus é soberano e portanto não existem fórmulas para o reavivamento. Deus se move de maneira diferente em tempos diferentes. Segundo, ele insistiu que a igreja precisa de reavivamento, não para que mais pessoas venham à Igreja mas antes para que Deus retorne ao Seu lugar de direito nas vidas e pensamentos das pessoas. 

Enquanto Martyn Lloyd-Jones tenha se envolvido em muitos círculos durante estes anos, a Capela de Westminster continuou sendo seu primeiro grande amor. Como no assunto da unidade da igreja, sua visão sobre o que é agora conhecido como psicologia Cristã se mostrou perspicaz e profética. O doutor não estava de maneira alguma impressionado com o casamento da pregação Bíblia com psicologia secular. Em 1977 ele falou sobre a diferença do método Paulino de ajudar Cristãos daquele que tinha se tornado cada vez mais popular pelo nome de aconselhamento. Sua convicção era de que muito do que era diagnosticado como psicológico era na realidade espiritual. Lloyd-Jones enxergava o púlpito como o foco do verdadeiro aconselhamento Cristão. Isto não significava que ele não estava interessado em sua congregação e em seus problemas. Nada poderia estar mais longe da verdade. Muitas horam eram gastas em aconselhamento pessoal e direcionamento Bíblico. Uma coleção de sermões neste tópico pode ser encontrada em Spiritual Depression: It’s Causes and Cures, (Depressão Espiritual, lançado no Brasil pela editora PES), primeiramente publicado em 1965. Depressão Espiritual aponta para a suficiência de Cristo na vida do Cristão e conclui com estas palavras: 

“Eu dou meu máximo, mas Ele controla o suprimento e poder, Ele o infunde. Ele é o doutor Divino e Ele conhece cada variação na minha condição. Ele enxerga meu temperamento. Ele sente meu pulso. Ele sabe... tudo. ‘É isto,’ diz Paulo ‘e portanto eu sou capaz de todas as coisas através Daquele que está constantemente infundindo força em mim.’ ...Ele nos conhece melhor do que nós mesmos, e Ele irá nos suprir de acordo com nossas necessidades.” 

No início da década de 60 o Dr. começou uma série de mensagens no Evangelho de João. Sua intenção nestas mensagens não era uma exposição verso-por-verso como era seu hábito normal mas antes uma busca pelo sentido essencial da certeza e enchimento do Espírito Santo. Os sermões que cobriram João 17 podem ser encontrados nos quatro volumes publicados pela Crossway Books; Saved in Eternity, Safe in the World, Sanctified Throuth the Truth, e Growing in the Spirit. (Todos publicados pela editora PES reunidos sob o série de Certeza Espiritual com os títulos de, respectivamente, Salvos na Eternidade, Seguros Mesmo no Mundo, Santificados Pela Verdade e Crescendo no Espírito). Curiosamente, foi nesta época que o assim chamado Movimento Carismático estava acontecendo nos Estados Unidos. A princípio, Lloyd-Jones mostrou interesse no movimento mas rapidamente viu que sua ênfase no falar em línguas e manifestações físicas não era Biblicamente fundada. O Sul-Africano David de Plessis havia se tornado o líder reconhecido do movimento carismático. Em uma carta escrita em 1968, Dr. Lloyd-Jones escreveu: “Eu senti que um elemento psicológico parecia ter vindo nesta conexão em várias pessoas... Eu quero dizer por isto que muitos que haviam tido o batismo com o Espírito e haviam se regozijado por vários meses apenas começaram a falar em línguas quando o pastor Pentecostal, David de Plessis veio à este país. Então repentinamente todos eles começaram a falar em línguas. Eu não consigo reconciliar isto com o Senhorio do Espírito neste assunto.”

Em 1968, já com 68 anos, o Dr. Lloyd-Jones passou por uma grande operação e, embora tenha se recuperado completamente, decidiu que o tempo havia chegado - após 30 anos em Westminster - de se aposentar como ministro. Seu ministério havia sido, sob qualquer tipo de avaliação, grandemente abençoado por Deus. Houve uma corrente estável de  conversões, muitas notáveis e, acima de tudo, uma variedade enorme de pessoas de todos os tipos de vida haviam sido ensinadas sobre a largura e profundidade da doutrina Cristã. 

Na Capela se encontravam soldados do Quartel Wellington, trabalhadores dos hotéis e restaurantes de west-end, enfermeiras de grandes hospitais, o ‘Antioch Club’ de atores e atrizes de teatros também de west-end, funcionários civis juniores e sêniors de Whitehall, e desempregados crônicos vindos do hostel do Exército da Salvação. Seu último sermão em 8 de Junho de 1980 foi pregado na igreja de um ministro que havia ido à Capela como um recente-convertido operário de construções, tão áspero e forte quanto um jovem Cockney* poderia ser. Dr. Oliver Barclay, o sucessor de Douglas Johnson e Secretário Geral da IVF (agora UCCF), costumava frequentar a Capela bem como seu sucessor Dr. Robin Wells.

A igreja estava sempre cheia de estudantes, especialmente estudantes além-mar, entre os quais estava o agora Presidente Moi do Quênia. A Igreja Chinesa costumava frequentar a Capela de manhã e muitos irmãos de Plymouth durante a noite. E, obviamente, haviam muitos trabalhadores profissionais como professores, advogados, contabilistas e talvez mais do que seu quinhão de pessoas com alguma deficiência mental. Jovens e velhos, ricos e pobres, homens e mulhreres, inteligentes e ignorantes, todos pareciam vir em igual medida para ouvir a mensagem Cristã ser apresentada com uma autoridade e poder não frequentemente igualadas. 

Todos os tipos e condições de pessoas vinham para vê-lo no seu escritório após o culto, onde ele passaria horas pacientemente escutando e aconselhando-as sabiamente. Uma delas escreveu: ‘Eu tenho uma adorável memória de ter ido até ele em profunda necessidade pessoal, mas ainda assim com muito medo de sua formidável conduta pública. Sua ternura e cativante bondade, juntamente com tal simples e direto conselho, ganharam meu coração. Seu cérebro e intelectualidade conquistaram respeito e admiração; aquele outro lado mais gentil, mostrado a mim em particular, causaram amor por ele.’

Nos doze anos após sua aposentadoria ele manteve tanto as Conferências de Westminster e da Irmandade e gastou boa parte de seu tempo no aconselhamento de outros ministros, respondendo cartas e falando interminavelmente no telefone. Livre da rotina rígida dos domingos em Westminster ele foi então capaz de contribuir mais com os compromissos exteriores que havia tomado como ministro, especialmente os finais de semana em pequenas e remotas causas, as quais ele adorava encorajar. 

Ele acreditava que, em uma época secular, as pessoas respondem à verdade imutável, - uma visão que foi confirmada enquanto ele via as igrejas liberais se esvaziando e as evangélicas mantendo sua causa. Ele viajou para Europa e para os Estados Unidos novamente, mas recusou novas idas e retornos à outros países.

Embora sermões sejam notoriamente impublicáveis em nossos dias, todos os volumes de suas séreis venderam por todo o mundo de língua Inglesa, mostrando que há uma demanda real pela exposição Bíblica racional, analítica e aplicada. Ele recebera muitas cartas de todos os cantos da terra. Um dia, por exemplo, ele recebeu a visita do Rev. Chuck Smith da Calvary Church, de Costa Mesa, Califórnia, que lhe disse que seus sermões haviam transformado sua pregação. Ele certa vez quase sofrera um colapso mental ao tentar usar sua personalidade para adicionar à mensagem. Desde então ele deixara a Bíblia falar por si mesma e disse que tanto sua ministração quanto sua própria saúde haviam sido enormemente beneficiadas. O que ele não disse é que sua congregação aos domingos de manhã chegava naquela época aos 24,000!

Em 1979 a enfermidade retornou e ele foi obrigado a cancelar todos os seus compromissos. Ele estava tranquilo quanto ao prospecto de não pregar novamente. Ele havia visto muitos homens continuarem quando já deveriam ter parado. Na primavera de 1980 ele foi capaz de começar novamente, mas uma visita ao Hospital Charing Cross em maio revelou que sua enfermidade exigia um tratamento mais rigoroso que o impediu de pregar. Entre esgotantes sessões no hospital, as quais foram enfrentadas com coragem e dignidade, ele continuou a trabalhar em seus manuscritos e a aconselhar seus ministros, mas na época do Natal ele já estava muito fraco para isto. Até o final, todavia, ele foi capaz de passar tempo com seu biógrafo (seu antigo assistente, Iain Murray).

Ao final de fevereiro de 1981, com grande paz e esperança confirmada, ele acreditou que seu trabalho nesta terra estava feito. À sua família imediata ele disse: “Não orem por uma cura, não tentem me segurar da glória.” Em 1 de Maio, o Dia de St. David e Dia do Senhor - ele passou para a glória da qual ele havia tão constantemente pregado afim de encontrar o Salvador que ele havia tão fielmente pregado.

O tempo irá dizer quem estava certo nas divisões que houveram entre homens tais como Martyn Lloyd-Jones e J. I. Packer. Packer acreditava que seu lugar era permanecer na Igreja da Inglaterra e mudá-la como o fez John R. W. Stott. Lloyd-Jones acreditava que os resultados inevitáveis seriam um enfraquecimento da igreja e sua doutrina. Eu concordo com Iain Murray que talvez as palavras de Michael Saward descrevam melhor o legado da união com o liberalismo:

“Uma geração criada com guitarras, refrões, e discussões de grupos domiciliares. Educados... não a usar as palavras com precisão pois a imagem é dominante, não a Palavra. Equipados não para manusear a doutrina mas antes a ‘compartilhar.’ Uma geração compassiva e cuidadosa que é suspeita de definições e classificações, desconfortável, e às vezes incapaz de lidar com a exposição da teologia. Excelentes quando o assunto é prover música, teatro e arte religiosos. Não tão bons quando solicitados à pregar e ensinar a Fé... Se esta situação não veio como um resultado daquelas mesmas coisas sobre as quais Martyn Lloyd-Jones nos avisou uma explicação diferente ainda precisa ser registrada.” 

Qual era o gênio de Martyn Lloyd-Jones? Parece que Deus lhe concedera o mesmo espírito visto em George Whitefield ou ainda em Jonathan Edwards. De fato Lloyd-Jones certa vez disse que ele acreditava que Edwards havia sido um Metodista Calvinista Galês no coração. Como Tony Sargeant tão habilmente nota em The Sacred Anointing, a pregação do doutor combinava aquela incomum mistura de sã doutrina reformada e paixão genuína. Que a igreja de nossos dias possa reinvidicar esta herança de maneira que possamos proclamar as majestosas doutrinas da regeneração e justificação como Paulo o fez e ao mesmo tempo estarmos dispostos à entregar nossas vidas para que nossos compatriotas possam conhecer Cristo!