segunda-feira, 3 de junho de 2013

A Origem Cristã das Universidades

Alvin J. Schmidt

Centenas de anos antes de Cristo, os Gregos antigos possuíam seus filósofos (Tales de Mileto, Xenófanes, Parmênides, Zenão de Eléia, Pitágoras, Demócrito, Sócrates, Platão, e Aristóteles) e seus poetas (Eurípides, Ésquilo, Aristófanes, e Sófocles.) E em um nível menor, os Romanos também possuíam seus pensadores brilhantes (Sêneca, Cícero, Plauto, Caio Plínio Segundo, Lucrécio, Tácito, entre outros). Todos eram homens eruditos que operavam no campo do que é atualmente chamado de ensino superior. Dada esta orientação literária, alguns historiadores têm se referido aos Gregos e Romanos como tendo as primeiras "universidades." Mas como Charles Haskins tem apontado, estes homens brilhantes não desenvolveram qualquer instituição permanente. Eles não tinham bibliotecas, não possuíam qualquer tipo de associação de eruditos ou estudantes, e não certificavam ninguém. [1] Ainda mais importante, pode ser argumentado, eles não testavam qualquer teoria e não se comprometiam com qualquer pesquisa; de fato, eles ignoravam e até mesmo desdenhavam do método indutivo. Portanto, não parece correto assumir, como às vezes é feito, que a universidade do século doze é um descendente linear dos antigos filósofos Gregos. [2] A melhor evidência indica que as universidades cresceram a partir dos monastérios Cristãos. 

Monastérios como Universidades Embrionárias

Concernente aos Seus discípulos, Cristo orou a Deus, "Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do maligno." (João 17:15) Ele não queria que Seus discípulos recuassem do mundo da mesma maneira que alguns como Santo Antônio, que viveu como eremita por motivações religiosas, começaram a fazer no século três. Cristo queria que os discípulos estivessem no mundo mas não fossem do mundo. Portanto, a fundação de monastérios em um sentido era inconsistente com Sua vontade. Mas devido à sempre presente tensão que existe entre os Cristãos e o mundo, alguns Cristãos, como os monges e freiras, se separavam fisicamente do mundo. Não obstante, Deus frequentemente faz com que coisas boas floresçam de esforços humanos um tanto falhos. Isto foi verdade em relação aos monastérios medievais, pois em muitas instâncias eles se tornaram a semente das universidades modernas. 

Com relação à origem primitiva das universidades, a história nos aponta para Bento de Núrsia (480-543?), o fundador do primeiro monastério da Ordem de São Bento em Monte Cassino, na Itália, em 528, e que logo construiu monastérios em muitas outras localidades. Todos os monastérios de São Bento atribuíam grande valor aos tesouros literários da antiguidade e do Cristianismo. Daniel Boorstin diz que São Bento tem sido chamado de "o padrinho das bibliotecas." [3] A Ordem de São Bento originou um elaborado sistema em seus muitos monastérios; eles coletavam livros, copiavam manuscritos na scriptoria, emprestavam livros à outros monastérios, e exigiam que os monges lessem livros diariamente. As posses da biblioteca da Ordem incluíam as Sagradas Escrituras, escritos dos pais da Igreja, e comentários bíblicos bem como livros seculares de escritores Gregos e Romanos. Tão indispensáveis eram as bibliotecas para esta ordem monástica que os monges diziam que a biblioteca era a sala de armas de um monastério, similar à sala de armas de um castelo. [4]

A scriptoria e bibliotecas nos monastérios de São Bento da Europa nos séculos seis e sete, entretanto, não eram de maneira alguma universidades completas e maduras. Estas vieram depois. Com o fundamento acadêmico fornecido pelos monastérios da Ordem de São Bento, as primeiras universidades surgiram nos séculos doze e treze. A evidência, todavia, é um tanto obscura para esta reivindicação. [5] Portanto, a universidade comumente citada como sendo a primeira é a Universidade de Bolonha, na Itália, fundada em 1158, a qual tem sido creditada aos esforços do Imperador Frederico Barbarossa. [6] Pelo menos um erudito, todavia, argumenta que a universidade em Bolonha era uma descendente da escola de leis fundada pelo Imperador Teodósio II já no ano 425 em Constantinopla. [7] A escola de Teodósio declaradamente possuía 31 professores que ensinavam Latim, Grego, leis, e filosofia. [8] Passando por cima da dúbia história da escola de Teodósio, há certas evidências apontando que a escola de Bolonha apareceu primeiramente no século dez. [9] Independentemente de seu tempo exato de origem, a Universidade de Bolonha em 1158 se especializou em direito canônico. A próxima a aparecer foi a Universidade de Paris em 1200. [10] Paris se especializou em teologia, e em 1270 ela adicionou o estudo de medicina. 

Bolonha se tornou a mãe de várias universidades na Itália, Espanha, Escócia, Suécia, e Polônia. A Universidade de Paris se tornou a mãe de Oxford e de universidades em Portugal, Alemanha, e Áustria. A Universidade de Cambridge, através de seu Emmanuel College, se tornou a mãe de Harvard na América. [11] Com o estabelecimento da Universidade de Bolonha e a Universidade de Paris e sua numerosa descendência, o ensino superior formal havia se tornado permanentemente institucionalizado. De acordo com Haskins, a universidade do século doze é "a descendente linear das medievais Paris e Bolonha." [12] 

De suas raízes monásticas e através do seculo dezenove, todas as universidades eram fundadas como instituições Cristãs, independentemente se ensinavam direito, teologia, ou medicina. Até boa parte do século dezenove, mesmo com o crescimento de estudos científicos, as universidades e faculdades Ocidentais "quase sempre operavam dentro de limites teológicos." [13] O carimbo Cristão em faculdades e universidades era evidenciado em seus nomes. Na Inglaterra e Estados Unidos numerosos colégios e universidades eram nomeados em honra à santos Cristãos: St. Anne's, St. Anthony's, St. Mary's, St. Bernard's, St. Olafs, e outros. Ainda outros colégios receberam nomes como: Christ, Trinity, Emmanuel, King's Magdalene, e assim por diante. 

Pesquisa: Suas Raízes Monásticas

Quando as pessoas pensam em universidades atualmente, em contraste com os colégios, elas pensam em pesquisa. Eram as universidades em Bolonha e Paris instituições de pesquisa? A resposta é um mínimo sim. Nos monastérios, onde as traduções e cópias de vários livros bíblicos e não-bíblicos e manuscritos eram feitas, os monges frequentemente comparavam e consultavam as diferentes fontes das quais eles haviam copiado ou traduzido. Isto é evidente das variantes leituras encontradas em cópias existentes de textos bíblicos em Grego e em Latim, bem como de textos clássicos não-bíblicos. Estas atividades relacionadas à pesquisa continuaram nas universidades, pois agora professores compilavam lições a partir das diferentes fontes das bibliotecas. Isto certamente era pesquisa, embora não pesquisa empírica. 

Não muito após o surgimento das primeiras universidades, algumas instituições se engajaram em pesquisa empírica. Em 1300, por exemplo, a Universidade de Bolonha (inicialmente uma escola de direito) dissecava cadáveres humanos para propósitos forenses afim de resolver processos judiciais. A dissecação de corpos humanos logo se espalhou para outras universidades que funcionavam como escolas médicas, por exemplo, as de Montpellier e Pádua. [14] E por volta de 1936, o Rei Charles VI da França ordenou que cada ano um cadáver de um criminoso fosse entregue na faculdade de Montpellier para estudos anatômicos. [15] A ação do rei foi precedida pelos estatutos de 1340 da Universidade de Montpellier, os quais garantiam cadáveres humanos para dissecação a cada dois anos. 

Que a pesquisa empírica, primeiramente confinada às escolas de medicina, ocorreu relativamente cedo na existência de universidades medievais não deveria nos surpreender se lembrarmos que eram os monges que ensinavam nas universidades e que haviam vindo de uma longa tradição de fazer tanto o trabalho intelectual quanto o físico. Os monges eram "usados até acumularem sujeira embaixo de suas unhas." [16] Fazer trabalho empírico era apenas uma extensão de seu trabalho físico; era a maneira Cristã de combinar atividade intelectual e manual. 

Antes deste tempo na história, com a pequena exceção de Arquimedes (ca. 287-230 A.C.), que construiu um parafuso de água e um aparelho para estudar geometria, e Galeno (A.D. 131-200), que dissecava animais e alguns cadáveres humanos, os grandes pensadores jamais testaram suas teorias empiricamente. Gregos e Romanos educados enxergavam toda atividade manual como sendo apropriada apenas a escravos, e uma vez que a pesquisa empírica exigia atividade manual, as brilhantes teorias propostas pelos antigos filósofos Gregos permaneceram não testadas. Por exemplo, Pitágoras (ca. 560-489 A.C.) argumentou que a terra era esférica e girava; Anaxágoras (ca. 500-428 A.C.) teorizou que a lua recebia sua luz do sol e que os eclipses lunares eram o resultado da terra impedindo uma porção da luz solar; Demócrito (ca. 460-370 A.C.) esposava a visão de que o mundo consistia de um número infinito de átomos que se moviam em um vácuo (vacuum); e Arquimedes (ca. 287-212 A.C.) avançou a teoria de um universo centrado no sol (heliocêntrico) e acreditava que a terra girava em torno do sol, o qual era estacionário. Desta maneira, a pesquisa empírica, a qual apareceu realmente nos monastérios medievais onde as atividades manuais e intelectuais não eram consideradas incompatíveis, foi uma enorme inovação e uma contribuição revolucionária ao mundo do aprendizado, uma contribuição legada à posteridade, e uma que as universidades atuais, seculares ou relacionadas à igreja, não podem sobreviver sem. O mundo do conhecimento seria grandemente aprimorado se eruditos e cientistas fizessem este grande legado do Cristianismo conhecido. 

A Origem dos Colégios e Universidades na América

Dada a poderosa influência que o secularismo atualmente possui sobre a maioria dos Americanos, eles provavelmente não estão cientes de que "toda instituição colegial fundada nas colônias antes da Guerra da Revolução - exceto a Universidade de Pensilvânia - foi estabelecida por algum ramo da igreja Cristã." [17] Nem a maioria dos Americanos está ciente de que em 1932, quando Donald Tewksbury publicou The Founding of American Colleges and Universities Before the Civil War (A Fundação dos Colégios e Faculdades Americanos antes da Guerra Civil), 92 porcento dos 182 colégios e universidades eram fundados por denominações Cristãs.

A maioria dos colégios e universidades que são hoje amplamente conhecidos começaram como escolas Cristãs. O Colégio Harvard, estabelecido em 1636, agora conhecido como Universidade de Harvard, foi fundada pela Igreja Congregacional como uma instituição teológica; o Colégio de William e Mary começou como uma escola Episcopal, também primariamente afim de treinar o clero; a Universidade de Yale começou principalmente como uma instituição Congregacional para "Educar Ministros em nossa Própria Maneira." [18] Os Metodistas fundaram a Universidade de Northwestern em Evanston, Illinois; a Universidade de Columbia (primeiramente conhecida como King's College) começou como uma arriscada empreitada Episcopal; a Universidade de Princeton começou como uma escola Presbiteriana; e a Universidade de Brown possui origens Batistas. Até mesmo algumas universidades do estado, por exemplo, a Universidade de Kentucky, a Universidade da Califórnia (Berkeley), e a Universidade de Tennessee, tiveram suas origens como escolas de igrejas. Mas atualmente estas instituições de ensino avançado têm abandonado suas origens Cristãs de outrora. Outras instituições, as quais ainda possuem alguma tênue ligação às suas denominações fundadoras, têm também largamente desertado sua fidelidade Cristã. Todavia, neste último grupo de colégios ou universidades, não é incomum ver em um  catálogo de colégios do estado que aquele colégio é uma "instituição Cristã" muito embora o que seja ensinado em suas salas de aula é comumente tão secular quanto qualquer coisa ensinada em universidades do estado. Apesar do massivo desvio de tantas instituições anteriormente Cristãs de seus títulos originais, o fato permanece que muitas delas não existiriam atualmente se não fosse pelos seus antepassados Cristãos. Similarmente, a maioria das universidades presentes na Europa - por exemplo, Oxford, Paris, Cambridge, Heidelberg, e Basel - possuem origens Cristãs.

Notas

1. Charles H. Haskins, The Rise of Universities (New York: Henry Holt, 1923), 3.
2. A. B. Cobban, The Medieval Universities: Their Development and Organization (Chatham, England: Methuen, 1975), 22.
3. Daniel J. Boorstin, The Discoverers (New York: Vintage Books, 1983), 491.
4. Ibid. 492-93.
5. Bowen, History of Western Education, 109.
6. Gabriel Compayre, Abelard and the Origin of the Early History of Universities (New York: Charles Scribner's Sons, 1899), 42.
7. Ibid., 56.
8. Millar, Christian Education in the First Four Centuries, 125.
9. Ibid. 110.
10. Compayre, Abelard, 14.
11. Cubberly, History of Education, 218.
12. Haskins, Rise of Universities, 5.
13. George M. Marsden, The Outrageous Idea of Christian Scholarship (New York: Oxford University Press, 1997), 15.
14. Cobban, Medieval Universities, 44.
15. Compayre, Abelard, 255.
16. Lynn White usa esta expressão em "The Significance of Medieval Christianity," na obra The Vitality of the Christian Tradition, ed. George F. Thomas (New York: Harper and Brothers, 1945), 93.
17. Paul Lee Tan, Encyclopedia of 7700 Illustrations: Signs of the Times (Rockville, Md.: Assurance Publishers, 1984), 157.
18. Thomas Clap: citado em Donald Tewksbury, The Founding of American Colleges and Universities Before the Civil War (New York: Teachers College Columbia University, 1932), 82.



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