sexta-feira, 21 de junho de 2013

Reflexões de um leigo em Políticas Sociais Sobre toda a Confusão Brasileira

Thackeray, ao escrever sobre Thomas Babington Macaulay, descreveu-o como um homem que lia "vinte livros afim de escrever uma sentença." Esta descrição de Thackeray até hoje fica presa na minha cabeça toda vez que me aventuro a escrever algo ou emitir uma opinião sobre um assunto, ainda mais um assunto controverso.

Bem, assunto mais controverso daquele que será abordado aqui é quase impossível de se imaginar. Portanto gostaria de fazer duas considerações antes de qualquer coisa.

Primeiro, leia atenciosamente o título do texto. Sou um leigo sobre o assunto, e olhe lá. Não sou qualquer entendido em Ciências Sociais, ou Ciências Políticas. Comecei a me interessar por assuntos políticos a partir de uma orientação teológica/filosófica, afim de entender principalmente como as idéias políticas se originaram e qual sua relação com a teologia. Não sou militante político, não tenho preferências partidárias, e me recuso a ser alinhado indiscriminadamente com a ala "conservadora" do Brasil, muito embora concorde com algumas de suas pautas - principalmente por minha moral Judaico-Cristã oriunda da Bíblia e da tradição Cristã ortodoxa.

Segundo, leia novamente o título. Estas são apenas reflexões, não uma tentativa de fornecer um panorama teológico-social-político completo. Estou vendo pessoas que nunca deram a mínima (principalmente na hora de votar) se transformarem do dia para a noite em revolucionários militantes políticos, e gênios comentaristas em assuntos de estado. Me recuso a falar sem pensar. Me recuso a me posicionar sem antes saber as motivações para tal posicionamento, sem antes saber a validade de tal posicionamento, sem antes avaliar muito bem se não estou apenas seguindo a onda - e principalmente - para onde a tal onda está indo.

Portanto me perdoem pela falta de uma visão clara e um posicionamento firme. Estes são apenas fragmentos de uma opinião formada através de "fatos"(será? quem garante? A grande mídia? Os Facebookteiros? O "anonymous?"), uma colcha de retalhos de percepções, temores, e tentativas de lógica.

Voltemos à questão. Confesso que me senti receoso desde o começo das manifestações. Aprendi a jamais engolir um "fato" pela primeira fonte que o passa. Já dizia Rushdoony muito bem que nem o homem nem os fatos são "neutros," a filosofia que você mantém colore e interpreta os fatos. Então ouvi e vi vários vídeos sobre a repressão policial exagerada nos primeiros protestos, e li sobre manifestantes presos à esmo, vinagre, balas de borracha, repressão e ódio crescente. Mas então no dia seguinte outra manifestação ocorreu, e o número já tinha aumentado em algumas milhares de cabeça. E então no outro dia novamente, e novamente. De repente outros estados e cidades começaram também a protestar. Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba, Porto Alegre. E ontem o número chegou a 100 cidades. O crescimento portanto é um tanto assustador. E podemos ver pouco a pouco o tom dos protestos mudando.

A grande verdade é que toda esta comoção é o resultado de um grito preso na garganta por décadas. Um grito pela (falta de) educação, pelo transporte (insuficiente), pela corrupção generalizada. É uma explosão de um país que se acostumou a ser chamado de acomodado, que se acostumou com o "jeitinho brasileiro," exemplo máximo do mesmo em nossa política. A revolta de um povo que mostrou (e mostra) por um lado extraordinária capacidade de suportar dificuldades, e por outro, uma capacidade extraordinária de não tentar resolve-las coletivamente. É a revolta do povo que não quer mais que tudo acabe em "pizza," mas sim em punição um tanto merecida. É a indignação de ver políticos com auxílio viagem, transporte, moradia, e até auxílio de corte de cabelo. É a fúria de uma nação que assistiu sentada CONDENADOS legislarem leis que os protegem, e passarem "projetos" afim de aumentar seus próprios salários. É a revolta dos impostos sem retorno, das promessas vazias, dos discursos "inclusivos," do blábláblá do "país do futebol" e "país da copa." Somos um país sistematicamente ferido e pisado pelo sistema corrupto, tivemos nossa consciência cauterizada pelas montanhas de sem-vergonhice de nossos caros políticos, vemos cadeiras de cinema nos estádios e camas de ferro nos leitos de hospitais. Se você é Brasileiro (e de fato, humano) e não sente revolta ao ler sobre isso, pare o texto aqui, nada disto tudo lhe interessa.

Tudo isto é verdade, e como Brasileiro compartilho da mesma indignação. Mas tem outro lado.

Começaram a pipocar no Facebook e em todas as redes sociais "revolucionários" instantâneos. Pessoas que há duas semanas estavam falando do Big Brother agora condenam a Globo satânica. (Sim, eu sei que a Globo é uma porcaria de emissora, e que é partidária, e que manipula fatos; mas, meus amigos, que emissora ou mídia não faz isto?) Indivíduos que eu VI dizerem que o Brasil era uma porcaria e que tinham vergonha de viver aqui (neste país de ignorantes) agora compartilham "hashtags" de orgulho nacional. Mentiras são repassadas na internet e engolidas sem qualquer análise. Quantas das pessoas que gritam O PAÍS É NOSSO tem qualquer idéia do conceito de Democracia? Existe mais de um. Quantas pessoas que gritam liberdade definem essa liberdade? Quantas pessoas que tentaram invadir (e aquelas que os apoiaram) de fato pensaram no que fariam após as invasões? Matariam policiais? Depredariam o patrimônio? Ou apenas mostrariam a força bruta e irracional de um país antes conhecido pela inércia política? A grande massa que agora participa dos protestos nunca se preocupou realmente com a política, e gritam a plenos pulmões que querem "os políticos fora." Assistiram muito V de Vingança e esqueceram de ler alguns teóricos políticos.

Levando em consideração os dois lados da questão ainda sou a favor dos protestos. Caramba, eu sou Brasileiro, e sei o potencial deste país, deste povo. Mas não vou fechar os meus olhos para o rumo que isto está tomando.

A situação é um tanto delicada... no começo de tudo vi intelectuais exaltando a juventude que começou tudo como aquela que nos fez lembrar que havíamos "desaprendido a sonhar." A dificuldade aqui reside na idéia um tanto poética que esta juventude toda é coesa e realmente SABE o que quer, e o que é plausível, além de uma idéia de como o sistema econômico e político funciona. Ademais, todo este povo se uniu sob uma bandeira comum: a corrupção. E quando as pautas começarem a mudar (se mudarem?) Militantes do PT foram convocados à manifestação e foram rechaçados com violência. Já existem protestos e petições online visando (de novo) a saída de Feliciano da Comissão de Direitos Humanos. A "Cura gay" é endemonizada por muitos que nem mesmo leram a proposta, a "Democracia" se transforma em um conceito um tanto vago e indefinido, uma bandeira invisível sob a qual todos se abrigam. E quando a bandeira for rompida pelas diferenças morais, éticas, religiosas, políticas, astronômicas, e Deus mais sabe, o que acontecerá? Direita com medo da esquerda tomar o poder de vez, esquerda com medo da Direita aplicar um golpe militar, ou ideológico. E devo dizer que na situação atual considero ambos os medos bem reais.

Agora é a hora de estudarmos mais, é a hora de realmente nos informarmos. Não creia que apenas a Globo manipula informações. Não creia em tudo que lê, ouve; não se deixe ser levado tão facilmente por qualquer "vento de doutrina." Fomos todos pegos despreparados por uma revolução política, pelo simples motivo de que jamais pensamos em política.

Se você é Cristão e está lendo isto, faça mais, ore. Peça a Deus auxílio, sabedoria, misericórdia.

Brasil, meu Brasil... se desaprendemos a sonhar, mostremos agora que não desaprendemos completamente a pensar.








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