sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Uma defesa da Hombridade

Em 1901 G. K. Chesterton, o grande autor Britânico, amplamente esquecido em nossos dias, todavia conhecido de todos aqueles que me conhecem (através de um processo de citações compulsivas que me assola) escreveu uma série de ensaios onde defendeu vários temas "controversos" sempre com seu estilo único e incisivo. Essa série de ensaios foi mais tarde compilada em um livro chamado "The Defendant," (em português, "O Defensor.") Trago esse fato à lembrança para que ninguém me acuse de plágio. Antes que alguém faça isso, eu mesmo o farei com todo orgulho.

Esses ensaios foram escritos pois Chesterton acreditava que alguns assuntos haviam sido esquecidos e outros deturpados a tal ponto, que uma "defesa" dos mesmos se fez necessária. Cingiu então os lombos e fez o que sabia fazer de melhor, escrever.

Todas as épocas possuem suas forças e fraquezas, e mais importante, todas as épocas possuem tópicos que precisam ser reiterados, fatos esquecidos e verdades deturpadas, pois, segundo Lutero observou de maneira muito coerente, a humanidade se assemelha à um beberrão andando de cavalo, sempre caindo ou para a direita ou para a esquerda, sempre abraçando extremos e esquecendo-se do equilíbrio. Nossa época em particular, quando falamos do Ocidente, é uma época complicada. Somos a época da tirania do "politicamente correto" como diria Felipe Pondé, onde a verdade é sacrificada no altar do bem-estar e auto-estima, tanto nas áreas seculares quanto - infelizmente e tristemente - nas Igrejas; somos a cria das filosofias pós-modernistas, que relativizaram a moral, e que gritam junto com Nietzsche "Deus está morto," somos o que sobrou da moral Cristã trazida pelos evangelistas misturada com as idéias filosóficas e culturais, um caldeirão de idéias onde o que vale é aquilo que te faz "feliz," aquilo que te faz sentir "completo," e onde os direitos são mais defendidos do que nunca e os deveres jogados para escanteio. O resultado é uma geração de cegos que não enxergam os deveres no céu nem os direitos na terra.

Neste texto tomo a sobremaneira prepotente tarefa de defender algo que foi desesperadamente esquecido em nossa época. Mas essa tarefa se torna ainda mais difícil porque esse esquecimento não se deu de maneira completa, mas antes, ele aconteceu através de uma mistura de idéias, onde a definição do termo se perdeu entre mil definições diferentes. Antes de defender o termo em si, gostaria de defender outro fato.

Nossa existência sempre foi definida em termos de absolutos, herança essa oriunda do Cristianismo. As idéias de honra, coragem e virilidade tão vigorosamente defendidas por Nietzsche foram igualmente defendidas pelo Cristianismo, com a diferença de que o mesmo as manteve em seu devido lugar, e não as elevou acima de todas as outras. Cristo foi o mais viril dos homens, enfrentou a cruz sem pestanejar, enquanto Nietzsche morreu insano e ironicamente obcecado por certos versículos da Bíblia. O meu ponto é este: Existe um padrão de conduta que é intrinsecamente certo, correto, e justo. Rejeito qualquer conceito relativista que diz que alguns comportamentos são certos em uma época e não em outra, rejeito o conceito insano de que tudo que importa é nossa "felicidade," rejeito conceitos simplistas e ingênuos de que tudo que precisamos é "amor," segundo o profeta de nossa geração, o homem que cantou sobre um mundo sem posses enquanto vivia em uma mansão, John Lennon. Não. A realidade é mais complicada do que isso, o ser humano é mais complicado do que isso. O problema fundamental do ser humano é o próprio ser humano.

Acredito firmemente que existe um certo e errado definidos, fixos e eternos. E que venham as lanças e espadas e me julguem como herege entre a geração "onde o amor é declarado com a boca e o ódio é vivido de fato."

Agora volto ao meu ponto principal, não antes de esclarecer mais um ponto. Como você deve ter notado o título do texto é "Uma defesa da Hombridade." Pois bem, algo aqui precisa ser dito. Me sinto extremamente incapaz de até mesmo definir esse termo corretamente, muito menos de defendê-lo, mas aprendi que a vida ensina aqueles que estão dispostos a aprender, e isso é ainda muito mais claro no caso dos Cristãos. A minha atual incapacidade e limitação não devem me impedir de defender aquilo em que acredito. Estou aberto ao aprendizado, e espero poder atualizar este texto sempre que aprender algo e achar digno de ser posto aqui. Peço de antemão que perdoem meus erros e excessos, mas não peço perdão por defender aquilo que acredito, disso eu não posso me desculpar. Leia o texto com a consciência de que um jovem finito, inexperiente e acima de tudo pecador escreveu esse texto - sim - mas não negue as verdades encontradas aqui pois as mesmas são independentes de mim, são fixas, eternas, e mantidas por uma Palavra que não volta atrás.


Hombridade: Algumas Questões Preliminares


Descobri que a força de um texto não vem apenas de sua lucidez, qualidade argumentativa ou amplo conhecimento - não importando quão fundamentais essas características sejam - o texto é semelhante ao ser humano, o qual sem propósito ou paixão seria apenas uma máquina. Tal qual o propósito é na vida do ser humano o é na força de um texto, e este texto em especial possui um propósito muito poderoso. Todos temos a tendência de achar que alguns problemas só acontecem com as outras pessoas, e que jamais aconteceriam conosco ou com alguém próximo de nós. Também temos a tendência de apreender algumas verdades apenas intelectualmente, mas não de fato, até que aconteçam conosco. Pois bem, a mentira que é a primeira tendência se fez terrivelmente clara através do acontecimento da segunda tendência em minha vida. Meu pai agora enfrenta a época mais difícil de sua vida. Ele sempre foi um homem forte como um touro, tanto fisicamente quanto psicologicamente, sempre foi para mim uma fortaleza inexpugnável, refúgio seguro, alguém que sempre estaria de pé quando todo o mundo ruísse ao seu redor - em resumo - meu pai sempre foi a figura da Hombridade para mim. Todavia algo aconteceu, algo difícil de explicar e mais difícil ainda de ser visto e vivido por qualquer pessoa que tenha conhecido esse homem. 

Meu pai se encontra agora em um estado complicado, frágil, enfrentou lapsos de razão, devido à falta de sono e fraqueza física, o remorso por falhas passadas (sendo algumas dessas "aumentadas" pelo senso de responsabilidade oriunda da geração anterior e tão tristemente desprezado e esquecido na nossa) o paralisa no presente e cria fantasmas para o futuro. O homem que eu considerava invencível se encontra agora debilitado e tentando encontrar forças para reagir. A minha personalidade sem dúvidas é estranha, considero mais fácil encarar um problema se for capaz de colocá-lo em palavras, quase como se ele perdesse parte de seu poder ao ser colocado em um papel. Sinto como o controle sobre ele aumentasse à medida que sou capaz de analisá-lo e separar suas partes, entender como ele opera, e acima e além de tudo, compreender que ele também acontece com outras pessoas. A minha concepção do que é ser homem foi duramente atacada e posta à prova, pois o meu modelo máximo foi também atacado. Mas o aprendizado vem àqueles que estão dispostos à encontrá-lo e acima de tudo, aplicá-lo. Portanto eu possuo duas excelentes desculpas para escrever este texto, dois excelentes propósitos. A primeira é a minha necessidade de colocar em palavras o que sinto, colocar em palavras toda a situação, para que eu possa analisá-la friamente, e liberar meus sentimentos. A segunda razão é a defesa per se, a consciência de que o sentido de ser homem mudou radicalmente em nossa geração, e mudou para pior. 

O dicionário define "Hombridade" como "Aspecto Varonil, Corporatura, Nobreza de Cárater." Agora, todas essas palavras com certeza não soariam estranhas para os homens de duas gerações atrás, homens que com 21 anos de idade já tinham uma família para sustentar, e não tinham muito tempo para ócio e brincadeiras, muito menos video-game (se na época isso existisse).  Ser homem na época era algo muito sério e algo muito definido. Não existia tal coisa como bullying, ou uma lei que impede os pais de bater nos filhos. Disciplina era algo real e necessário, não uma expressão de tirania imposta pelos pais, como alguns psicólogos modernos parecem defender. Gordon Clark em seu "A Christian Philosophy of School" cita o autor John Dewey, que em 1922 já instilava a rebeldia da juventude contra os pais. Os pais têm "domesticado" a - segundo ele - "maravilhosa originalidade da criança." Agora, apenas uma coisa me vem à cabeça ao ler algo desse gênero. John Dewey nunca teve filhos, e se teve, quem cuidou deles foi apenas sua mulher. A irracionalidade de nossa época chegou ao ponto de dizer que a criança não deve ser reprimida em nenhum sentido, que todos os seus instintos e vontades são puros, porque não foram contaminados pela sociedade, essa entidade que parece ser a vilã de todos os problemas da humanidade. É claro que as crianças possuem muitas características fantásticas, mas elas não são perfeitas. Esses homens tão eruditos e cultos se perdem na vastidão de suas mentes e esquecem as verdades mais práticas e óbvias da vida. George Bernard Shaw em seu "Treatise on Parents and Children- What is a Child?" nos responde a pergunta "o que é uma criança?" Diz ele que a criança é "um experimento. Uma tentativa nova de produzir o homem justo tornado perfeito: isto é, de tornar a humanidade divina." Shaw acreditava na doutrina do super-homem pregada por Nietzsche, isto é, ele acreditava que a natureza através de processos cegos de tentativa iria um dia criar o homem divino. Quando enxergada sob esse ponto de vista é compreensível a conclusão à qual ele chega após: "E você irá viciar o experimento se fizer a mínima tentativa de abortá-lo em alguma fantasia própria: por exemplo, sua noção do que é um bom homem ou uma mulher feminina." Agora, o que é interessante nesse tipo de pensamento é que a perfeição nunca é definida por esses homens, eles nem mesmo arriscam. E eles estão dispostos a pregar que as crianças, criaturas ingênuas, indefesas  e pecadoras, não recebam qualquer tipo de recriminação ou disciplina, sob o pretexto de que talvez estejamos estragando uma criança que se tornaria um dia o homem divino.  Toda essa confusão nasce de uma confusão mais profunda e às vezes escondida. Esse tipo de pensamento é apenas a conclusão lógica do dogma humanista que diz que o ser humano é em sua essência bom, são apenas os outros seres humanos que o corrompem. Não vou me demorar nesse assunto, só gostaria que as pessoas que culpam a "sociedade," ao invés do indivíduo para tudo, me dissessem do que a sociedade é feita. E a resposta óbvia seria, "de vários indivíduos." O que torna esse argumento um tanto estranho, no mínimo.

Não, o ser humano não é bom em sua essência, ele é mal. Como Pascal disse, nós somos "deuses caídos," corrompidos em nossa própria essência. Novamente, não desejo me demorar nesse assunto, e meu foco não é defender essa doutrina. Meu foco é o seguinte; a falha em considerar o humano da maneira errada resulta na falha da criação, o que resulta na falha em criar homens justos, conscientes e honrosos. 

Mas o que seria um homem honroso? O que seria um homem justo? Seria ele perfeito como Bernard Shaw imaginava? Um produto da vontade cega da natureza? Será ele um produto de uma sociedade perfeita? O produto utópico de uma sociedade igualmente utópica? Pode a evolução criar ou muito menos explicar o que seria um "homem divino"? Daqui para frente defenderei o conceito de homem justo como mostrado na Bíblia contra alguns dos conceitos mais difundidos em nosso tempo. Hei de definir e defender essa definição, pois como Ravi Zacharia diz, "a verdade não é apenas uma questão de ofensiva, no sentido de fazer certas asserções. É também uma questão de defesa, no sentido de que ela deve ser capaz de fazer uma convincente e sensível resposta às objeções que são levantadas." A verdade é tanto positiva quanto negativa, positiva no sentido de definir o que é verdade, negativa no sentido de definir e defender o que não é verdade. Nos textos seguintes é isto que pretendo fazer. 



Um comentário:

  1. Esse mundo ta uma merda mesmo, estamos fodidos. Não queria ter nascido nesse século.

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