quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre a falta de ter sobre o que escrever

Se não tiver sobre o que escrever escreva sobre a falta de ter sobre o que escrever. Mas isso é uma mentira. Não existe falta de assunto. Existe falta de vontade de procurar, ou falta de talento para procurar, ou talvez falta de disciplina para procurar. Mas sempre houve e sempre haverá assunto que seja digno de uma resenha, e pelo menos um louco disposto a lê-la. Essas são as duas grandes verdades de nosso mundo.

Ao escrever sobre a falta de ter sobre o que escrever, várias coisas me vêm à cabeça. A primeira coisa que me vem à cabeça é que eu tenho uma cabeça. A segunda coisa é que com essa cabeça eu posso pensar sobre o fato de ter uma cabeça. E aí já temos dois assuntos deveras interessantes e dignos de obras extensas que poderiam encher uma biblioteca inteira. Mas continuemos. Me vem à mente também  não apenas que eu posso pensar sobre, mas que eu posso também comunicar esses pensamentos à outras pessoas das mais variadas formas. Através da escrita, através da fala, através de uma pintura talvez, ou de uma música. E falando em pessoas, me lembro de que existem todos os tipos de pessoas, e me recordo da maravilhosa criatividade Daquele que é a fonte de toda luz - e de toda criatividade.

Deus criou pessoas, Deus criou raças, Deus criou seres que também criam, - e que têm cabeças.

Ora, ao pensar sobre a falta de assunto, penso sobre outra coisa que sempre pensei desde criança. Penso sobre nossa inabilidade em ficar sem pensar em nada. Nossa mente está sempre ativa; sempre pensando em algo, e de maneira meio bizarra, às vezes pensando em algo de maneira independente. Com certeza essa experiência já te atingiu. Você está lendo um livro. Seus olhos estão absorvendo as palavras. Seu cérebro está fazendo isso. Mas ao mesmo tempo que você absorve as palavras a sua mente está focada em outro assunto. Talvez sua namorada, ou futura namorada (isso acontece frequentemente comigo), talvez seu trabalho, talvez até mesmo outro livro. E seu cérebro também está fazendo isso. É quase como se fossem dois cérebros independentes, um que você controla (até certo ponto) e outro que você não controla em absoluto. Se você nunca pensou nisso, pense agora.

Mas ao falar dessa estranha dualidade um nome aparece na minha cabeça. Um nome atrelado à uma criatura estranha, expressão de todos os defeitos e desejos suprimidos de um nobre homem. Esta criatura se chama Mr. Hyde. O livro de Robert Louis Stevenson imprimiu em minha alma uma profunda compreensão e às vezes terror daquela parte escondida que todos nós temos, e que é de uma maneira muito mais clara e definida um fato no caso dos Cristãos. O apóstolo Paulo no livro de Romanos, capítulo 7, nos pinta um quadro deveras eloquente desta realidade, quadro que me recorda do quadro de Dorian Gray, outra expressão extremamente gráfica do pecado que habita em nossos corações. De fato a literatura sempre teve um peso muito grande em minha vida, e frequentemente me pego pensando nisso.

De Dúmas a Lutero, de Chesterton a Calvino, de Lewis a John Milton, e de John Milton a J. R. R. Tolkien; as palavras impressas no papel, os pensamentos, desejos, devaneios, argumentos, paixão e fantasia que são transportados de uma cabeça à um pedaço de papel sempre me fascinaram. Posso dizer sem sombra de dúvida que a eloquência de uma determinada descrição sobre um determinado fato ou ação podem te impelir a fazer ou deixar de fazer muita coisa. Foram as palavras de G. K. Chesterton impressas em um papel que impulsionaram Mahatma Gandhi e toda a revolução que o seguiu. Foram as palavras de Martinho Lutero lidas por um pastor que despertaram a incrível alma e espírito de John Wesley.

As palavras são um veículo, elas transportam idéias. E idéias transformam pessoas. E pessoas transformam o mundo.

Então quando paro para pensar, penso o quão é ridícula a noção de que não há coisas para se pensar, e consequentemente, para escrever. E aí continuarei escrevendo, mesmo que seja sobre a falta de ter sobre o que escrever - e pensar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário